Existe uma relação entre a diminuição de casamentos e nascimentos e o declínio da fé
Por John Flynn, LC
ROMA, 11 de Junho de 2013 (Zenit.org)
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Como e por que o cristianismo está em declínio em muitos países do
Ocidente? Esta é a pergunta central do último livro de Mary Eberstadt, How the West Really Lost God, publicado pela Templeton Press.
Diversos
estudos têm demonstrado que a fé e a prática religiosa cristã
diminuíram em quase todos os países europeus e que a percentagem de
pessoas que não creem tem aumentado também nos Estados Unidos.
A respeito da causa desse declínio da religiosidade existem várias
teorias, como a urbanização, a industrialização, a tecnologia e assim
por diante. Eberstadt vê uma ligação entre essas mudanças e a
secularização, mas destaca um fator de vital importância que normalmente
não é levado em conta: a família.
Tem sido frequentemente sugerido que o declínio da família é
consequência do enfraquecimento da religião, mas a tese proposta no
livro é que o enfraquecimento da vida familiar é que contribui para o
declínio da religião.
Conforme Eberstadt, nós somos, talvez, as pessoas mais livres da
história da humanidade, mas também os mais pobres de laços familiares e
de fé, vínculos que eram firmes nas gerações anteriores.
Depois de alguns capítulos iniciais que examinam o processo de
secularização e algumas das hipóteses mais comuns que tentam oferecer
uma explicação a respeito, os capítulos seguintes fornecem os
embasamentos da teoria da estudiosa norte-americana sobre a interação
entre a família e a religião.
Eberstadt começa analisando as evidências empíricas da ligação entre
fé e família. Citando vários estudos, ela observa que, quanto menos
filhos há numa família, menor a tendência da família a ir à igreja. Por
exemplo, um homem casado e com filhos tem uma inclinação mais do que
duas vezes maior a ir à igreja do que um homem não casado e sem filhos. A
convivência pré-marital também tem forte impacto negativo na prática
religiosa.
"Em outras palavras, o que você decide fazer no tocante à sua
família, se ter uma, se casar, se ter filhos e quantos ter, tudo isso
são fortes indicadores de quanto tempo você vai dedicar ou não a ir à
igreja", acredita a autora.
Mas por que existe essa interdependência? Eberstadt propõe que a
religiosidade está associada a casamentos e a taxas maiores de
fertilidade. Em vez de assumir, no entanto, que a fé venha primeiro e
depois venha a família, ela argumenta que o que torna as pessoas mais
religiosas são as famílias mais numerosas e mais sólidas.
A tese de que as pessoas constituam famílias só por serem religiosas
não explica por que muitos cristãos cujas igrejas permitem a
contracepção e o aborto ainda têm famílias maiores do que os
não-crentes.
Eberstadt admite que a correlação não significa necessariamente
causalidade, mas a opinião comum de que a secularização tenha levado a
mudanças na vida familiar também se baseia em uma relação implícita de
causa e efeito.
Ao longo do tempo, as taxas de fertilidade caíram em muitos países
ocidentais, mais e mais pessoas começaram a viver juntas em vez de se
casar e muitas outras deixaram de ir à igreja. Essas tendências se
reforçam mutuamente, declara Eberstadt.
A urbanização e a industrialização são frequentemente citadas como
fatores de enfraquecimento da religião, mas a estudiosa ressalta que
eles também estão associados a um enfraquecimento da vida familiar e à
queda na taxa de natalidade. Esta mudança na família pode ter sido um
passo intermediário para a perda de religião, diz ela.
Mais crianças e mais casamentos significam mais Deus, conclui
Eberstadt, depois de descrever uma série de mudanças demográficas na
história recente.
Em comparação com outras teorias, admitir um papel da família na
determinação da religiosidade explica melhor algumas mudanças, sustenta
Eberstadt em um dos capítulos do livro. Por exemplo, o fato de que as
mulheres são religiosamente mais praticantes do que os homens.
“Explicar essa diferença com base na inferioridade feminina não
funciona”, afirma Eberstadt. Talvez o que explique a diferença é que a
experiência da família e dos filhos é mais imediata na mulher do que no
homem.
Mas quais são os fatores que vinculam família e religião? Eberstadt
cita vários. Um fator é que ter filhos leva os pais a participar da
igreja pela necessidade de encontrar um lugar adequado para a educação e
para a comunidade. O amor familiar, afirma ela, dá às pessoas um
incentivo extra para contemplar a eternidade.
Além disso, o cristianismo é uma história contada através da
perspectiva de uma família de 2000 anos atrás. Em uma sociedade
individualizada, com muitas famílias desestruturadas, é mais difícil dar
sentido a uma tradição religiosa baseada em dinâmicas familiares.
Eberstadt considera ainda que as pessoas não gostam de ouvir que
estão erradas ou que os seus entes queridos cometeram erros. O
cristianismo não poderia deixar de transmitir essa mensagem sem deixar
de lado alguns preceitos fundamentais, numa época de famílias
"não-tradicionais".
Entre as notas negativas, Eberstadt observa que as tendências
familiares que subvertem o cristianismo não dão mostras de
enfraquecimento no Ocidente. No entanto, ela também abre espaço para uma
visão otimista, argumentando que uma virada na vida de família é muito
plausível: o cristianismo tem uma história de renascimentos em situações
difíceis e sabe adaptar-se a novas circunstâncias.
Em conclusão, a autora afirma que o cristianismo e as famílias
saudáveis representam uma grande vantagem para a sociedade. Resta o
problema de enxergar como e quando as tendências negativas das últimas
décadas serão revertidas.
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